quinta-feira, 1 de outubro de 2009

GAIOLA DOURADA

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Ontem estive um pedaço grande na minha janela.
Apeteceu-me espreitar o mundo. Deu-me uma vontade enorme de escutar o vento, de falar com os pardais, de contemplar as flores, tudo a partir da minha janela.
Sei que não procedi bem, mas espreitei para a casa da vizinha. Também tinha a janela aberta, foi fácil de ver o que se passava sem dar nas vistas.
Constatei que tem uma casa riquíssima, de interior bem cuidado, mobilada a preceito, com gosto requintado.
De noite, enquanto dormia, voltei a sonhar com a minha janela. E não senti o vento, nem os pardais, nem as flores.
Apenas vi a casa da minha vizinha.
Pulei a janela, entrei-lhe em casa de mansinho e passeei pelos corredores, apreciei tapeçarias e quadros, móveis e pratas e, sem contar, deparei-me com um cenário que se tornou num autentico pesadelo: a espreitar pelas grades entreabertas, mal podendo sentir a aragem cálida da rua, estava uma gaiola dourada com dois passarinhos atrofiados a balouçar no poleiro!
E que vontade eles tinham de dançar ao sabor do vento!
Não me controlei: estendi a mão, abri a porta de grades douradas e incitei os prisioneiros à liberdade. Primeiro tiveram medo, hesitaram, depois abriram as asas e voaram, levando consigo os fantasmas de um cativeiro degradante.
Que importa que um gato os coma se puderam planar no céu uns minutos que lhes pareceram uma eternidade?
Fugi a correr, voltei a saltar a janela para a rua e senti medo pelos pássaros. Mas se Deus lhes deu asas foi para voarem. E nem todos os gatos são bons caçadores! Sorri e acordei.

Ainda bem que tudo não passou de um sonho.
Só não sei o que estava uma pena pequenina a fazer em cima do livro aberto na minha janela...
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